terça-feira, 18 de agosto de 2009

Para a Chuva que me banhou.

Juiz de Fora, 18 de agosto de 2009

Quando eu era pequena, minha mãe me falou que independente do caminho que eu fosse seguir existiria tempestades. Com meu pai, eu cresci escutando: “Quem está na chuva, é para se molhar.” Mesmo assim, tempos atrás, quando você chegou pra mim, eu não quis me molhar.
É dona Chuva, você me pegou de surpresa e esfregou no meu rosto de moleca levada que eu não tinha todos aqueles super-poderes que pensava. Eu era vulnerável e não sabia.
Não me esqueço nunca do dia em que o travesseiro da minha cama absorveu lágrimas de amor pela primeira vez. Logo eu que tinha PhD em brincar com o coração alheio. Mas com aquele, foi diferente. Aqui se encaixa bem um trecho que já li por ai: “Se o deixar partir morrerá. E a morte do coração é a morte mais horrível que existe.” E eu não só o deixei ir embora, como expulsei.
E como aquilo me doeu; como a minha inexperiência com a vida me custou caro; e como eu aprendi do modo mais duro que pessoas foram feitas para serem amadas, e não pisadas.
Eu nunca vou esquecer o que me disseram no banco daquela praça: “Menina, você pode passar por tudo, pode mandar todos irem embora, só não deixe o amor ir, pois é ele quem anestesia a dor causada pelo mundo”.
A maquiagem pra fazer o rosto ficar bonito estava lhe deixando mais manchado que o coração que estava ferido por dentro por se achar esperto.
O amor tinha ido embora. A minha casa de dentro não era bonita e sentimento puro não pode se contaminar.
Chuva, você sabia que eu era dura e não me importava em ser assim. Foi quando você se transformou em Tempestade para ver se eu derretia um pouco. Mas eu não era açúcar feito as pessoas bonitas. Eu era pedra.
Passaram amigos querendo me dar abrigo e eu não quis. Eu era pedra. E como isso me doía.
Até que um dia, eu me dei por vencida e pedi ajuda. É, eu não nego, eu pedi ajuda! A pedra foi furada e as flores do peito foram regadas.
À medida que eu ia desabafando com um desses anjos que a gente escolhe, não sei como, você foi entrando e limpando essa minha casa.
Hoje de manhã, ao abrir as portas do meu quarto, parece que eu vi o Sol. E se hoje eu sou cheia de flores, eu agradeço a você.
E nessa carta, eu lhe prometo que, por mais que eu tenha medo de você, por mais que eu não goste de quando o tempo fecha, eu não vou mais te resistir. Porque quem está na Chuva é pra se molhar. E se você veio me visitar é porque eu estou precisando crescer mais um pouco. Prometo-lhe também cuidar direitinho das pessoas que me querem feliz. O coração já não está cabendo no meu peito faz tempo, penso que seja por você ter feito reviver tanta flor dentro dele. Talvez seja o tempo de eu começar a espalhar essas flores apaixonadas pelo mundo.
E se por um acaso faltar amor, por favor, regue, regue muito pra mim até você achar que está bom. Porque com você Dona Chuva, eu não me atrevo nunca mais!
Ah, só permita-me um último desaforo de moleca levada: Talvez eu te deixe irritada só até você virar Tempestade, porque eu já sei que depois da Tempestade, vem a Bonança. E pelo o que eu estou vendo daqui do meu quarto, ela é boa.


“Se hoje o sol sair, eu te prometo o céu.”

8 comentários:

  1. Que lindo Rayssaaa me identifiquei muito com sua cartinha,realmente não vale a pena deixar o amor ir embora e nos fechar pelas coisas boas da vida.

    Adorei sua cartinha flor
    que seja doce sempre

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  2. -
    fico lindo, adorei
    dá até pra esquecer das coisas ruins...


    beijocas

    .

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  3. Raissa e Vanessa, muito obrigada! :D
    e que daqui pra frente, que seja apenas a doçura!

    bjins...

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  4. Nossa! Viajei em pensamentos lendo seu texto! Gostei demais =)
    Parabéns... Me indentifiquei bastante :* no coração =)

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  5. Ah, muito obrigada Noemyr! Fico feliz que tenha gostado! :D
    beijos...

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  6. Nossa, este foi o toque de leveza que faltava na minha tarde.
    Muito lindo, moça.

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  7. Rayssa

    Os amores se vão... Os amores vêm...

    POrque o amor é como as marés, vão e vêm, desde que voce se deixe levar pelo balanço das ondas...

    Sim! Sim! Concordo que devemos conservar o amor, mas, se o amor não quer se conservar? Se, de repente, e muito de repente, o amor quiser se ir, transmutar, metamorfosear, buscar novos ares?

    A vida não se acaba...

    Deve se adaptar, minha amiga!

    lembre-se das marés... Amores que se vão... Amores que se vêm...

    Abraços, belo texto introspectivo!


    Gilberto
    nel mezzo del cammim

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  8. Pessoa e Gilberto, muito obrigada!
    Agradeço muito pelas palavras lindas, Gilberto. E pode ter certeza, que as marés estará sempre em meus pensamentos. E que seja sempre Sol para nós!

    bjins...

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